Em defesa dos servidores e do serviço público de qualidade

Por um novo modelo de valorização dos trabalhadores da segurança pública

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Giovani Chagas*

A desvalorização dos trabalhadores, homens e mulheres, da segurança pública no Brasil é uma realidade histórica. Esse processo tem acumulado perdas de ordem salarial e pessoal, familiar e social, e também contribuído para a acentuada evasão de profissionais para outras áreas, sejam públicas ou privadas.  Ainda não temos um programa efetivo e atuante de valorização permanente que compreenda tanto as condições de trabalho quanto as salariais, que garanta uma vida digna para quem tem o dever de cuidar da dignidade da população. Aproximando mais de nossa realidade, as Guardas Civis Municipais em geral, e a de São Bernardo do Campo em particular, que são órgãos efetivos e eficazes do sistema de segurança pública do Brasil, nos dão a amostra real dessa trágica situação.

Para agravar esse cenário de ausência de uma política efetiva de valorização desses trabalhadores e trabalhadoras, a saída que muitos têm encontrado é fazer o “bico” para continuar sobrevivendo. Recentemente, um GCM de uma cidade vizinha foi morto quando fazia bico e, lamentavelmente, a resposta sobre esse fato de alguns gestores e especialistas em segurança pública foi: o bico na GCM é cultural. Uma resposta dessa natureza revela o reconhecimento dos gestores de que o GCM tem um péssimo salário, e também, que as administrações públicas não estão preocupadas com a qualidade do trabalho e muito menos com o trabalhador.

Lamentamos profundamente o fato trágico ocorrido com um companheiro nosso, que tirou a própria vida, o bem mais valioso para nós, para nossos familiares e para a sociedade. Vamos lutar para que isso não ocorra outra vez.  Causa muita indignação o fato da Administração não tomar providências afim de criar as condições para evitar e amenizar o stress da profissão e para acompanhar e tratar os trabalhadores já acometidos psicologicamente pelo stress.  Há mais de 2 anos  era para ter sido implantada a assistência psicossocial que, no nosso entender, contribuiria muito para evitar fatos como esse. Só nos resta perguntar: por que não foi implantada? Foi por insensibilidade aos direitos humanos dos trabalhadores ou descaso? Será que estavam esperando acontecer algo dessa natureza?

A Segurança Pública deve ser eficiente e, para que isso ocorra, é necessário que as administrações públicas invistam no profissional e em condições de trabalho decente. Investir nos profissionais inclui formação, salário digno, respeito. Investir em condições de trabalho decente é ter um ambiente de trabalho que dê condições para se realizar as atividades. Fornecimento dos equipamentos de proteção individual; local de trabalho com condições de higiene; refeitório e vestiários adequados às necessidades dos trabalhadores e trabalhadoras. Segurança pública não se faz apenas com prédios, se faz com pessoas, para ações humanizadas.

Diante dessa situação, somos arremessados a pensar na questão para nós trabalhadores e sociedade civil a qual fazemos parte: qual Guarda queremos? Objetivando contribuir com essa discussão nosso Sindicato tem efetuado, em conjunto com outros sindicatos, encontros, seminários, cursos de extensão universitária, para debater concepção de Guarda, de segurança, o papel da Guarda na prevenção à violência e valorização profissional. Mas, na atual conjuntura, avaliamos que o principal debate na GCM de SBC hoje deve ser norteado pelas se-guintes questões: – qual a Guarda que eu quero? O que espero da GCM? O que quero para meu futuro? Qual a minha participação na construção da GCM que quero? Qual a GCM que o cidadão precisa?

Fizemos uma luta histórica e muito importante para as mudanças que ocorreram: mudança de comando; reformulação e ampliação do estatuto; jornada de trabalho 5×2 e 12×36; redução da jornada para 40 horas semanais; pagamento integral de vale transporte, etc.. Mas e o salário? Qual era a remuneração em 2007 e qual minha remuneração hoje? Quanto custavam o aluguel e as despesas de mercado; sacolão e açougue em 2007 e quanto pagamos hoje?

A GCM passou por mudanças estruturais: estatuto, Comando  e secretaria, e o que mudou para os trabalhadores e trabalhadoras? Todos somos Guardas. Alguns GCM 3ª Classe, outros de 2ª Classe, outros de 1ª Classe ou Supervisor GCM. O que está acontecendo é que estamos nos esquecendo disso devido a uma divisa de graduação ou por medo de perder o cargo cujo salário é maior. Cada nomeação efetuada causa indignação em muitos.
Por que há indignação? A desmotivação da tropa é uma realidade. O fato é que muitos não estavam preparados para as mudanças, seja para comandar ou para serem comandados. Será que estamos esquecendo que um dia fizemosconcurso; fomos aprovados; somos GCM de carreira, que a Guarda precisa de nós para existir e nós também precisamos dela? Alguns se esquecem porque talvez nunca tiveram o salário que têm hoje e outros porque não têm
o salário que merecem.

Será que as ambições individuais não estão nos dividindo? Cada dia surgem novos grupos: de graduados, de subordinados e de comissionados.  O FATO É QUE ESTAMOS ESQUECENDO QUE TODOS SOMOS GCMs.

Será que a solidariedade, o companheirismo e a humildade se transformaram em abstrações dos discursos? Falta solidariedade quando não ajudamos uns aos outros e quando olhamos para o próprio “umbigo”. Falta companheirismo quando agimos com arrogância ou não nos preocupamos com o outro quando podemos ajudar e não fazemos nenhum esforço. Falta humildade quando não pedimos ou não aceitamos ajuda.  Não podemos jamais desistir de lutar por algo que acreditamos e por algo que queremos. Quando o objetivo é comum, devemos lutar juntos.  Queremos salário digno, respeito e condições de trabalho.

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