Em matéria publicada neste domingo, 17 de fevereiro, o Diário do Grande ABC, mais uma vez, demonstrou sua intenção de macular a imagem dos trabalhadores e do serviço público. Além disso, ao estampar uma manchete tendenciosa e infame, o jornal deixa evidente sua intenção de voltar os seus leitores contra os servidores públicos.
O bom jornalismo, que parece não fazer parte da linha editorial do DGABC quando o assunto é serviço público, aponta para a necessidade de se “ouvir as partes”. Oras, a quem o jornal ouviu nesta matéria que fosse capaz de traduzir a realidade vivida pelos servidores? Nenhum trabalhador, nenhum dirigente sindical, nenhum representante de institutos ligados aos servidores foi ouvido. Os trabalhadores públicos foram o alvo principal da matéria, portanto, principais interessados e “parte” imprescindível a ser ouvida.
A matéria não deixa evidente quais os critérios utilizados para se chegar à tal média salarial. O caráter tendencioso fica ainda mais latente quando faz comparações com os salários pagos por outros setores, como indústria, comércio e serviços.
Para falar dos salários dos servidores e para calcular sua média salarial, utiliza as informações de “gastos com pessoal” repassadas pelas sete cidades da região ao TCE que podem agregar encargos, formação, reserva para novas contratações e outros benefícios. Quando fala dos demais setores, utiliza dados do DIEESE/SEADE, que referem-se exclusivamente à média de salários pagos, sem a inclusão de encargos, benefícios ou gratificações, como por exemplo, as PLRs – Participação nos Lucros e Resultados – pagas por várias indústrias do Grande ABC. Fosse uma matéria de cunho informativo, teria citado a média salarial paga pela indústria do Grande ABC, ou utilizado o mesmo índice para a apresentação da média nacional dos salários dos servidores.
Em São Bernardo do Campo, particularmente, o piso salarial da categoria é de R$ 876,88 para uma jornada de 40 horas semanais. A maioria dos servidores do município não recebe mais do que R$2 mil mensais, e entre estes há uma grande quantidade que recebe o piso. Portanto, a irresponsabilidade da matéria coloca pais e mães de família, cujos salários estão defasados, com perdas acumuladas por quase dez anos de reposição zero da inflação, como “marajás” diante da população. Para verificar a média salarial dos servidores de São Bernardo do Campo, basta acessar o portal da transparência. Ali, o DGABC e qualquer cidadão pode ver qual o salário da maioria dos servidores concursados e compará-los com os rendimentos dos comissionados. Para aumentar nossa perplexidade, a matéria coloca que os servidores ganham muito, enquanto que comissionados estão com salários abaixo da média do mercado. Se é para comparar, a matéria deveria ter falado sobre convênio médico, vale refeição, vale transporte, condições de trabalho…
O que pode estar por trás de uma matéria desastrosa como esta? Equívoco editorial? Tentativa de degradação do serviço público? Por que logo agora, quando várias cidades da região iniciam suas campanhas salariais, este jornal dá destaque a uma matéria como esta?
Para nós, está claro que o DGABC tenta utilizar seus leitores para a propagação da receita neoliberal de redução do Estado e de desregulamentação do serviço público. Uma receita que tem dado todos os sinais de que não funcionou e levou à bancarrota os países que a implementaram. A irresponsabilidade, neste caso, vem com claro interesse de beneficiar grupos econômicos que poderão beneficiar-se com a radicalização nos processos de terceirização e privatização.
Felizmente, a população sabe do valor de nosso trabalho e dedicação e não vai se deixar influenciar por aqueles que tentam beneficiar-se com a usurpação do serviço e do patrimônio público.
São Bernardo do Campo, 18 de fevereiro de 2013.
Diretoria do SINDSERV São Bernardo do Campo