(Foto: Cadu Bazilevski)
O 1º de Maio, Dia Internacional dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, é fruto da longa história de luta e resistência da classe trabalhadora. Em 1889, em Paris, representantes de diversos países decidiram transformar a data em um símbolo mundial de mobilização, em memória aos mártires de Haymarket (Chicago, 1886), que reivindicavam a jornada de 8 horas diárias — uma conquista que, embora hoje pareça básica, custou vidas.
No Brasil, o 1º de Maio ecoa não apenas as lutas internacionais, mas também a resistência ancestral de um povo que, por mais de 350 anos, teve seus corpos e tempos de vida legalmente apropriados pela escravidão. Essa herança persiste nas relações de trabalho, nos dados de desigualdade e nas formas de exploração que, apesar de renovadas, seguem atuantes.
As conquistas trabalhistas não foram dádivas: foram arrancadas com organização e luta. Mulheres e homens perderam liberdade e vida para assegurar:
● Jornada de trabalho regulada, fruto de greves históricas contra a lógica desumana do lucro.
● Direito à organização sindical, garantindo voz coletiva frente à opressão patronal.
● Salário-mínimo, férias anuais, 13º salário e licenças maternidade e paternidade, fruto de mobilizações, negociações e greves.
● Proteções contra demissões arbitrárias e normas de segurança no trabalho, fundamentais para evitar doenças e mortes laborais.
É importante lembrar também que o dia 28 de abril foi instituído como Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho e Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, em referência aos 78 mineiros mortos em uma explosão nos EUA (1969). No Brasil, um trabalhador morre a cada 3,5 horas em acidentes evitáveis. Entre 2012 e 2024, registraram-se 8,8 milhões de acidentes e 32 mil mortes no mercado formal — números que desconsideram trabalhadores informais e servidores públicos.
Raízes e Resistências no Brasil
A luta pela dignidade trabalhista no Brasil germinou nas senzalas, nos quilombos, nas greves operárias e nas ocupações de terra. No pós-abolição, o movimento sindical assumiu papel revolucionário, enfrentando elites que ainda hoje resistem a avanços sociais. Das greves gerais de 1917 à fundação da CUT nos anos 1980, a história da luta trabalhista no Brasil é também a história da construção de nossa democracia. A reforma trabalhista (2017) e a reforma da previdência (2019) são exemplos recentes: sob o discurso da “modernização”, desmontaram direitos históricos.
O 1º de Maio: Celebração e Alerta
Se o 1º de Maio é celebração das vitórias, é também chamado à vigilância constante. Novas lutas se impõem, como a redução da jornada – o combate ao regime 6×1. A manutenção da saúde mental tornou-se um dos principais desafios: afastamentos por estresse e depressão cresceram 134% em dois anos, segundo dados do INSS, em 2024, impulsionados por metas abusivas, assédio e jornadas exaustivas, enquanto plataformas digitais perpetuam a precarização sob o mito da “flexibilidade”. A luta pela saúde mental é parte fundamental da luta coletiva por condições dignas de trabalho, e não responsabilidade individual de suportar o insuportável.
Do Capitalismo Primitivo à Exploração Moderna
A exploração do trabalho não é mero subproduto, mas fundação do capitalismo. Para Marx, a “acumulação primitiva” — a expropriação de terras e escravização de povos — é o “pecado original” do sistema. No Brasil, essa lógica articulou-se com a herança escravocrata: após a abolição, os libertos foram lançados à marginalização, formando a reserva de mão de obra barata. Como lembra Nancy Fraser, o capitalismo vive de explorar e expropriar ao mesmo tempo.
Hoje, essa dinâmica se reinventa,
● Desapropriação simbólica: Reformas trabalhistas retiram direitos e transformam trabalhadores em “empreendedores de si mesmos”, como na uberização, onde a precarização é disfarçada de liberdade.
● Êxodo forçado: Migrações internas empurram corpos negros e periféricos para trabalhos insalubres nas margens urbanas.
● Reserva de mão de obra ociosa: (necessária para a manutenção do sistema) pressionam salários e fragilizam a organização coletiva.
● Trabalho invisível de dados: Nossa atividade digital, desde cliques a rotas de entrega, dados são colhidos por grandes empresas, perpetuando a racialização do capitalismo, onde corpos negros são hipervigiados e explorados.
Desde a colônia, as elites brasileiras justificam a espoliação pelo discurso do “progresso” — ontem com o açoite, depois com a marginalização pós-abolição, hoje com a retórica da “flexibilidade”.
O Presente e o Futuro: Entre a Digitalização e a Resistência
A inteligência artificial e a digitalização ampliam a precarização. Crescem riscos como vigilância algorítmica, adoecimento mental e exclusão de direitos nas plataformas digitais.
A resposta, mais do que nunca, reside na organização coletiva. Servidores públicos, embora frequentemente desvalorizados, continuam sustentando serviços urbanos, educação, saúde, assistência social, esporte e lazer, cultura, segurança, habitação, Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal, pilares da cidadania. E seguem resistindo a projetos como a PEC 32, que ameaça transformar direitos sociais em mercadorias.
O Legado e o Chamado
O 1º de Maio não é apenas celebração: é um chamado à ação. Se ontem conquistamos a jornada de 8 horas, hoje precisamos impedir novos retrocessos e lutar por políticas que priorizem vidas, não lucros.
Nenhum direito a menos. Nenhuma vida a menos. Juntos e juntas somos mais fortes! Só a luta coletiva muda a vida.