Principal crítica da população na capital é a falta de investimento e superlotação no transporte público
Na quarta-feira, 9 de abril, a CUT e as demais centrais sindicais realizaram a 8ª Marcha Unificada da Classe Trabalhadora. Bandeiras de diferentes cores foram hasteadas pelos militantes na Praça da Sé, que seguiram em caminhada até a Avenida Paulista.
No trajeto, que reuniu cerca de 40 mil pessoas, a marcha encontrou trabalhadores (as) do cotidiano da metrópole em mercados, padarias, comércios e nas ruas da cidade. Nas calçadas, ouviam atentos as falas dos dirigentes em cima dos caminhões. Com críticas, sugestões e elogios ao movimento sindical, eles falaram sobre as dificuldades que enfrentam.
O auxiliar de um escritório de advocacia, José Carlos, 54 anos, se reconhece nas pautas que exigem os 10% do orçamento da União para a saúde e o transporte público de qualidade. “Moro na zona leste, no bairro Artur Alvim. Demoro pelo menos 1 hora para chegar até o centro de São Paulo, isso é um absurdo. O movimento sindical pode abordar mais a questão da violência na cidade que cresce a cada dia e afeta as famílias”, sugere.
A moradora do bairro do Limão, na zona norte, Ivane Alves, de 48 anos, afirma que é preciso haver maior investimento na educação pública e os 10% do Produto Interno Bruto (PIB) são imprescindíveis. O transporte, para ela, é outra questão prioritária. “Todo dia tem pane no metrô. Hoje, na Barra Funda, mais um problema. Eles não informam o que acontece, só dizem que os trens circulam com velocidade reduzida. Fora a superlotação”.
Para o jovem que atua com Tecnologia da Informação, Alan Moraes, de 27 anos, a maioria dos trabalhadores deste setor ainda é terceirizada no Brasil. “Os que contratam entendem que desenvolvimento de software ou algo relacionado não faz parte da atividade-fim das empresas. Transformam todo mundo em prestador de serviço e pagam menores salários com isso”, afirma com indignação.
A opinião de Alan é compartilhada pelo manobrista Augusto Silva, de 36 anos, que reclama da jornada de trabalho. “O Projeto de Lei 4330 que está nas bandeiras eu não conhecia, mas sou também contra a exploração. Quem não é contratado por CLT sofre em dobro. Eu mesmo tenho que trabalhar de segunda a sexta e, ainda, aos finais de semana”.
Segundo a auxiliar de limpeza de serviço funerário, Maria Rejane, de 35 anos, o transporte é o problema maior. Com residência em Guaianazes, na zona leste, ela relata que sai de casa às 4h da madrugada para chegar às 6h40. “Eu sofri um acidente dentro do vagão do metrô Luz. Me levaram de ambulância até o hospital e me deixaram lá sozinha. Depois, não tive nenhum auxílio nenhum do governo. Tenho o pé inchado até hoje”.
A educadora Viviane Felix Borges, de 44 anos, faz referência ao investimento na educação, mas destaca transporte e saúde como questões prioritárias. Com tratamento do câncer de mama, afirma que encontra dificuldades para chegar ao hospital público Pérola Byington. “Saio duas horas antes da Penha para chegar lá. Se para uma pessoa comum é difícil enfrentar a superlotação, imagina para quem faz quimioterapia. Mas é governo de São Paulo é o grande responsável por isso”.
Para o porteiro Manoel Rufino da Silva, de 54 anos, a política de valorização do salário mínimo deve ser fortalecida. “Já fui obrigado a fazer dupla jornada para conseguir ganhar melhor. Cheguei do Nordeste e passei por muita discriminação. Quem contrata só se preocupa com o lucro próprio. Trabalho há 30 anos no mesmo prédio e há muito tempo recebo apenas R$1.070 e nenhum benefício”.
A diarista Elenilza Santos trabalha há 20 anos como empregada doméstica. Para ela, a conquista de direitos no Brasil demora para avançar no país. A PEC das domésticas, promulgada há um ano, até o momento não foi regularizada. Ela estabelece jornada de trabalho de 8 horas diárias para faxineiras e babás, por exemplo, e que o salário dessas trabalhadoras não seja inferior ao mínimo.
O aposentado Gerson Nunes, de 54 anos, aponta como prioridade o fim do fator previdenciário e a lotação dos trens. “Esse negócio de fator que to ouvindo eu não sei explicar direito, mas foi Fernando Henrique [ex-presidente do país] que criou. O que sei mesmo é que eu ganhava R$ 2 mil reais e depois que me aposentei passei a ganhar R$ 600 a menos. Se isso é o tal fator, tá prejudicando muita gente”, afirma Nunes, que hoje faz bicos na construção civil para sobreviver.
Fonte: CUT Nacional e CUT-SP